27 de agosto de 2013

TREINANDO PARA O VESTIBULAR - Proposta de Redação 1

Aos alunos que, eventualmente, desejarem propostas extras de redação sobre os temas que percorrem a mídia semanalmente, postarei algumas aqui.

A proposta que segue diz respeito à legalização da maconha, a partir de sua regularização no Uruguai a duas semanas.

Texto I


A resposta da Califórnia - Mário Vargas Llosa
Publicado em: Estadão, 07 de novembro de 2010.

[...] Esta solução passa pela descriminalização das drogas, ideia que há pouco tempo era inaceitável para a maior parte de uma opinião pública convencida de que a repressão policial aos produtores, vendedores e usuários de entorpecentes seria o único meio legítimo de pôr fim a semelhante praga.
[...] Os milhões de eleitores californianos que votaram a favor da legalização da maconha são um indício auspicioso de que cada vez é maior o número daqueles que pensam que chegou a hora de uma mudança na política para lidar com as drogas e de uma reorientação dos esforços - de repressão e prevenção, de cura e informação - no sentido de acabar com a criminalidade desaforada que é criada pela proibição e com os estragos que os cartéis estão infligindo às instituições democráticas, principalmente nos países do terceiro mundo. [...] 
A legalização das drogas não será fácil, é claro, e num primeiro momento, como assinalam seus detratores, trará sem dúvida um aumento no seu consumo. Por isso, a descriminalização só tem razão de ser se for acompanhada de intensas campanhas de informação sobre os prejuízos que esse consumo implica[...]
Mas seu efeito mais positivo e imediato será a eliminação da criminalidade que prospera exclusivamente graças à proibição. [...] Como o problema da droga é fundamentalmente econômico, sua solução também precisa passar pela chave econômica.
[...] a legalização trará aos Estados grandes recursos que, se forem empregados na educação dos jovens e na informação do público em geral a respeito dos efeitos nocivos que o consumo dos entorpecentes causa na saúde, podem trazer um resultado infinitamente mais benéfico e de alcance mais amplo do que uma política repressiva [...]
[...] seus adversários respondem com um argumento moral. "Será que devemos nos render ao delito em todos os casos nos quais a polícia se mostre incapaz de deter o delinquente, optando, assim, por legitimá-lo?  Não se deve confundir as coisas. Um Estado de direito não pode legitimar os crimes e os delitos sem negar a si mesmo e converter-se num Estado bárbaro. E um Estado tem a obrigação de informar seus cidadãos a respeito dos riscos que estes correm ao fumar, beber álcool e usar drogas, é claro. [...] Mas não me parece muito lógico nem coerente que, sendo esta a política seguida por todos os governos em relação ao tabaco e ao álcool, não seja esta a política seguida também para o caso das drogas [...].
Liberdade. Por isso, não vejo por que o Estado teria de proibir uma pessoa adulta e dona do próprio juízo de causar mal a si mesma ao fumar maconha, cheirar cocaína ou encher-se de pastilhas de ecstasy se isto lhe agrada, alivia sua frustração ou sua apatia. [...] É perigosíssimo que o Estado comece a definir aquilo que é bom e saudável e aquilo que é ruim e prejudicial, pois tais decisões representam uma intromissão na liberdade individual, princípio fundamental de uma sociedade democrática.
Por este rumo podemos chegar sem perceber ao desaparecimento da soberania individual e a uma forma disfarçada de ditadura. E as ditaduras, como sabemos, são para os cidadãos infinitamente mais mortíferas do que os piores entorpecentes.


Texto II


Publicado em: Zero Hora, 31/07/2013.



Texto III





Publicado em: Zero Hora, 08/09/12


A legalização no Uruguai - Informações

•Venda da droga em farmácias: 400 gramas por usuário por mês;
•Registro, maioridade e residência no país;
•Cultivo: até seis pés;
•Criação de órgão para fiscalização e controle da produção;
•Planos de prevenção ao consumo;
•Proibição de propagandas e venda a menores de 18 anos.

Campanhas de prevenção às drogas - Brasil




Filmes sobre a maconha - contextualização


Super High Me, 2007

Nome original: Super High Me
Diretor: Michael Blieden

         Sinopse: Através de um formato documental, Super High Me faz uma sátira/cópia de Super Size Me. Contudo, vemos o comediante americano Doug Benson utilizar como pesquisa principal a maconha e não os fast-foods. Ele passa 30 dias sem consumir cannabis e, posteriormente, 30 dias consumindo a erva. O documentário apresenta todos os exames médicos sem e com a influência da maconha. Apesar dos quilinhos a mais, o resultado final é surpreende.


       Um documentário expressivo e divertido sobre a história da maconha nos Estados Unidos no século 20. Do diretor canadense Ron Mann, é um documentário instigante e polêmico, inédito no Brasil, que foi aclamado nos países onde pôde ser apresentado. Com uma linguagem moderna, o filme conta a história secreta da proibição da maconha, mostrando os interesses políticos e econômicos por trás dela. Maconha se baseou numa imensa pesquisa histórica e traz imagens surpreendentes de antigas campanhas publicitárias anti-drogas. Foi eleito como o melhor documentário de 2000 pela Academia Canadense de Cinema e TV.



A União – O Comércio Por Trás do “Ficar Chapado”

       O comércio ilegal da maconha se transformou em um grande negócio, que movimenta $7 bilhões de dólares anualmente apenas no Canadá. Embora o documentário aborde de forma sucinta os princípios e políticas passadas que classificaram a maconha como "uma droga poderosa e perigosa", apresenta uma pergunta bastante válida. Por quê? O documentário mostra como os cultivos caseiros se transformaram num negócio multibilionário. Mesmo assim, a sociedade recusa a aceitar seus benefícios naturais e continua a gastar milhões para processar e prender aqueles que a cultivam, vendem ou fumam. O documentário entrevista historiadores, escritores, estudiosos, policiais, representantes do governo, cultivadores e celebridades (Tommy Chong, Joe Rogan) dos EUA e Canadá, analisando a causa e efeito da natureza do negócio - uma indústria que pode lucrar mais se permanecer ilegal.

Quebrando o tabu - 2011

        Quebrando o Tabu escuta vozes das realidades mais diversas em busca de soluções, princípios e conclusões. Bill Clinton, Jimmy Carter e ex-chefes de Estado, como Colômbia, México e Suíça, revelam como mudaram de opinião sobre um assunto que precisa ser discutido e esclarecido. Do aprendizado de pessoas comuns, que tiveram suas vidas marcadas pela Guerra às Drogas, até experiências de Dráuzio Varella, Paulo Coelho e Gael Garcia Bernal, Quebrando o Tabu é um convite a discutir o problema com todas as famílias.


Pontos e contrapontos para reflexão

Uso medicinal x Distúrbios psíquicos
Gastos com a repressão x Gastos com testes, tentativas
Rebeldia e transgressão do jovem x Maior consumo
Crime organizado x Mercado negro
Redirecionamento dos esforços policiais 
População penitenciária e ressocialização
Campanhas publicitárias adequadas
Mercado secundários
Oferecimento de outras drogas x “Porta de entrada”
Fracasso da repressão nos EUA x Fracasso da descriminalização


PRODUÇÃO DE TEXTO

A partir da leitura dos textos apresentados, produza um texto dissertativo-argumentativo posicionando-se a favor ou contra a legalização da maconha no Brasil. Seu texto deve:
* Apresentar dados concretos para embasar seu argumento;
* Trazer um exemplo de local no qual a descriminalização foi benéfica ou a política de repressão foi maléfica;

* Se FAVORÁVEL, seu texto deve:
Apresentar dois motivos que tornam o Brasil “capaz” de legalizar a droga.

* Se CONTRÁRIO, seu texto deve:
Apresentar dois motivos que tornam o Brasil “incapaz” de legalizar a droga.

Faça de 12 a 15 linhas ou até 30 linhas (ENEM).





9 de agosto de 2013

Democratizar a democracia

Roberto DaMatta - importante antropólogo brasileiro - entende o futebol como o esporte responsável por ensinar a nós, brasileiros, a democracia. Palavra essa, aliás, que, de tão manjada, já perdeu seu real sentido em meio a significados e contextos diversos, muitas vezes meramente elucidativos. No Brasil, por exemplo, é senso comum entender a democracia como a tomada de decisões pelo povo. Porém, mais senso comum ainda é compreender que a democracia aqui não funciona plenamente.

É claro que não desmontarei a máquina democrática da política brasileira a fim de mostrar-lhe, caro leitor, quais as engrenagens que, vez em quando, emperram. Isso seria subestimar a sua inteligência e poderia despertar o Gigante (se é que me entende). Aliás, já que tocamos no assunto subestimar o povo, me permita lhe informar que o governo, mais uma vez, "tirou uma com a nossa cara", como diriam meus alunos. Refiro-me à caxirola, o instrumento criado por Carlinhos Brown (cujo nome, aliás, me soa muito patriota) que se tornaria símbolo das torcidas da Copa do Mundo 2014 no Brasil (tchitchitchitchi). Percebeu o verbo no pretérito? Pois é. A criação, melhor, a adaptação de Carlinhos Brown foi testada em um jogo entre Bahia e Vitória e, para surpresa de seus entusiastas, foi utilizada como arma de protesto pelos torcedores do time perdedor (tchitchitchitchi), que arremessaram os instrumentos ao campo. Abaixo, portanto, à caxirola.

Um detalhe importante da caxirola é seu preço. Sim, preço. Peço desculpas, leitor, pois não expliquei-lhe antes que, no jogo-teste os instrumentos foram dados aos torcedores, mas a intenção, claro, é que sejam comercializados, custando em torno de 30 reais (tchitchitchitchi). Sabendo disso, é evidente que a adaptação do caxixi para a caxirola não poderia ser mais trágica (tchitchitchitchi)! E a tragédia está não no ocorrido no jogo de estreia do instrumento, mas na forma como foi imposto que esse seria o símbolo de torcidas que, por si só, já simbolizam o futebol que nos faz conhecidos no mundo todo, feito de caras e urros! A democracia da qual fala DaMatta existe, de fato, no futebol. Ela inexiste, porém, nos palácios e senados onde projetos como o da caxirola são aprovados (tchitchitchitchi). Exerçamos, portanto, a nossa democracia! E que os campos de futebol, as calçadas do Senado, as praças e as avenidas se cubram de caxirolas, cartazes e pessoas na luta pela utópica democracia.

8 de agosto de 2013

Aço em flor

CENÁRIO: panos pretos; páginas rasgadas ao chão; garrafas e copos quebrados ao chão; um banco de madeira grande, de três lugares no centro do palco; painel branco atrás do palco com poemas de PL em preto e manchas em vermelho. Ao fundo, melodia da canção "Cheiro de uma flor".
Homem nu, com sandálias franciscanas, sentado no meio do banco. Em seu corpo, palavras escritas em preto e gotas de tinta vermelha, sangue.



os bigodes trêmulos
o bafo de vodka
o olhar de cachorro que caiu da mudança
em abandono
em cólera
em transe
as palavras sussurradas, inaudíveis aos jornalistas burocratas empresários ternos e gravatas batom no colarinho que falavam falavam falavam compondo uma melodia desconexa e sem ritmo que só jornalistas burocratas empresários ternos e gravatas batom no colarinho suportariam
passos lerdos, arrastados
a vida que pulsara naquele corpo, que alimentara sua genialinsanidademental parecia pisoteada pelos passos lerdos, pesados, tamanho 43
rua
curitibanos
asiáticos
cheiros
pastel
perfume
mijo
barulho
motores
martelos
risos



sua cidade, sua alma
apagava-se
diluia-se
a cachaça lhe corroera os ossos, tudo bem!
tirara-lhe esposa e filhos, tudo bem!
sobrevive, diluído, mas sobrevive
a cachaça - essa merda de realidade
essa merda de cidade
essa merda de poesia!
amada seja a poesia!
cadê? diluída em copos e relaxos.
cadê?
amada seja a poesia!
manchas
memórias
lembranças turvas
manchas
amada seja a poesia!
cadê?
flores
poesia
flores
agora aço - pedra - aço
a poesia era sua liberdade! amada seja! cadê?
?
aço no pulso
aço no pulso
pulsação - poesia - pulsaç - poesia - pul - poesia - p - poesia - p - poesia - p - poesia.
a noite, enorme
poesia.
ele dorme.

18 de junho de 2013

Sobre as manifestações


Na última segunda-feira (17) as ruas de Curitiba foram tomadas por milhares de pessoas em apoio aos manifestos do Movimento Passe Livre em São Paulo. A cena que presenciei ao me deparar com todo aquele povo, era linda. Cartazes, bandeiras e um grito preso na garganta era o que mantinha os manifestantes unidos.
Em meio a toda a discussão que, inevitavelmente, se formou em torno desses movimentos que se alastraram pelo Brasil, dois pontos chamaram minha atenção. O primeiro diz respeito ao caráter indiscutivelmente diferenciado desses novos manifestos. Diferente do que até então era costumeiro, esses manifestos têm como principal marca a pacificidade. Em São Paulo, por exemplo, onde tudo começou, desde o primeiro manifesto as pessoas foram às ruas portando flores, vestindo branco e suplicando PAZ. A polícia, em contrapartida, por despreparo, recebeu os manifestantes com inegável truculência. O despreparo policial tem como origem, acredito, justamente no diferencial desses movimentos, que não têm um centro, um sindicato ou alguém com que negociar, e sim, milhares de pessoas que, juntas, formam um único núcleo que pede, exige resposta. A polícia, assim, é impotente diante os crimes cometidos diariamente por uma população carente, oprimida e cada dia mais violenta, mas é forte (no sentido literal da palavra) para repreender arbitrariamente e ditatorialmente àqueles que, em protesto, lutam por dias melhores.
No meio da multidão, óbvio, pequenos grupos cometem atrocidades que difamam e mancham o branco das manifestações. Mas como julgá-los? Como dizer, com todas as letras, que essas pessoas estão erradas em destruir o patrimônio público, tão privado? A impressão que tenho, ao tentar responder essas perguntas, é que acabarei me repetindo e entrando num exercício retórico inválido e pouco eficiente, pois creio ser muito difícil mudar a mentalidade de um cidadão que, cansado dos pequenos delitos diários que sofre do governo, queira destruir o que ele mesmo mantém, com o suor do seu trabalho. Por isso, e espero que isso não comprometa a validade desse texto, não me aterei aos vandalismos. O fato é que, em meio aos muitos manifestantes que lutam em paz, existem os que lutam vandalizando. E isso não significa que o manifesto seja uma baderna.
O segundo, e último ponto (por enquanto), que me chamou a atenção, foi em relação às demandas dos manifestantes. Li muitas opiniões de pessoas que julgam necessário um foco, uma demanda mais clara nos manifestos que se espalharam pelas capitais. Temos uma demanda clara: a diminuição na tarifa do transporte público! Parece-me mais claro ainda que, por trás dessa demanda, muitas outras questões estejam implícitas. Afinal de contas, se a tarifa aumenta, pressupõe-se que a qualidade no transporte também melhore, assim como aumente a frota de ônibus, os salários dos trabalhadores, deem-se condições mínimas de trabalho àqueles que ficam em estações tubos e diminuam-se as goteiras em terminais e tubos (falando exclusivamente de Curitiba). O problema é que os preços sobem e a qualidade não. Em Curitiba, alguns dos novos biarticulados exibem um bonitinho telão próximo à porta 1, que exibe notícias e propagandas de empresas curitibanas. Além disso, alguns terminais já contam com um letreiro informando horários de algumas linhas de ônibus, o que facilita muito a vida de qualquer passageiro, desde que os motoristas conseguissem cumprir aqueles horários, ou que os biarticulados mais antigos não deixassem se funcionar no meio do trajeto. Portanto, sem mais rodeios, a demanda de diminuição na passagem é clara e não é e nem pode ser única!
Algumas pessoas me disseram que foi só mexer no bolso, na “migalhinha” de cada um, que o povo resolveu lutar. Não vejo por esse lado e acho, na verdade, que é uma visão simplista e acomodada. Se fosse apenas isso, porque tantas pessoas, em meio à multidão, pedem por promessas não cumpridas e reivindicam melhorias em outros setores? Na manifestação vi cartazes referindo-se à tarifa, vi outros reclamando a corrupção, alguns descendo o sarrafo nas grandes mídias, e outros, ainda, cobrando ação, grito e luta do povo. E isso não significa, não mesmo, que o movimento tenha perdido sua demanda principal, tenha desvirtuado seu principal objetivo. Isso porque o aumento da tarifa é, na verdade, advindo de tantos outros insultos que corrompem a democracia e ferem nosso patriotismo, pois um problema, a meu ver, é cíclico e se origina de outros problemas. É muito claro o que a população exige: voz ativa - além das urnas - nos processos políticos do país e DIGNIDADE. Então, por favor, manifestantes, cobrem, gritem e reclamem seus direitos! Reclamem suas migalhinhas!
É inevitável, também, a pergunta: no que isso vai dar? E a resposta também me parece óbvia: não sabemos. O que importa, acredito, é dar o recado, manter a postura ao ir às ruas e não deixar o caráter pacífico das manifestações se perder em meio ao despreparo policial e às opiniões contrárias que tendem a difamar os manifestos. O que estamos fazendo é muito bonito, válido e necessário! Continuemos, então, nesse processo democrático em que ir às ruas me parece ser uma forma de (re)descobrir o Brasil e revelar o brasileiro, tal qual ele é, um povo heroico, livre e politicamente ativo.

26 de março de 2013

No corpo - Ferreira Gullar

De que vale tentar reconstruir com palavras
O que o verão levou
Entre nuvens e risos
Junto com o jornal velho pelos ares

O sonho na boca, o incêndio na cama,
o apelo da noite
Agora são apenas esta
contração (este clarão)

do maxilar dentro do rosto.

A poesia é o presente.