19 de janeiro de 2012

Sou o tipo de pessoa que lê.
Talvez as pessoas que convivem comigo, diriam que sou uma devoradora de livros.
Essa expressão não me agrada. Livro tem que ser lido com calma, atenção, paciência e devoção.
Devoro sim, mas degustando cada palavrinha... Portanto, um livro é um verdadeiro banquete.
Sou o tipo de pessoa que só cura nervosismo, crises de TPM, irritações e estresses cotidianos, com algumas horas dedicadas à vida de algum personagem.
Leio porque preciso ler. É uma necessidade.
E, mesmo parecendo piegas, papo de estudante de letras, frase decorada, eu afirmo que, cada leitura me modifica.
A noite passada, cheguei ao final de uma das histórias mais perturbadoras que já li: a história de Raskólhnikov. Pela terceira vez leio essa história, cujo título é "Crime e castigo" e o autor é o russo Dostoiévski. Porque resolvo escrever sobre "Crime e castigo" agora, após a terceira leitura? Porque foi nessa leitura que compreendi (assim penso), Raskólhnikov.
É direito de algum cidadão tirar a vida de outro para alcançar seus objetivos?
Todo crime é fruto de uma mente má?
Todos os criminosos são pessoas más?
Todo crime devem ser julgado?
Esses questionamentos são inevitáveis após a leitura de "Crime e castigo".
Raskólhnikov, o assassino, divide os seres humanos em extraordinários e comuns. Segundo ele, os seres extraordinários são intelectuais, capazes de ultrapassar barreiras, limites. A eles, caberia o direito ao crime. O crime, nesse caso, seria uma forma de eliminar da terra os seres que, supostamente, nada fazem de original, nada de aproveitável têm a oferecer, os seres comuns.
A princípio, a justificativa de Raskólhnikov se baseia na necessidade de furtar os bens da vítima.
Mas, conforme o autor nos direciona para os pensamentos do assassino, que passa horas e horas meditando sobre sua condição, percebemos que o furto não é o motivo principal.
Porque matou? Matou para provar a si próprio que não era um ser comum. Matou para ultrapassar a barreira, o correto. Matou para afirmar-se como um homem extraordinário.
Esse é o crime.
O castigo?
O castigo se dá desde o momento em que Raskólhnikov percebe a dimensão do crime que cometeu. Começa então, sua tortura. Seu castigo é ele mesmo quem aplica, através dos pensamentos, das atitudes e da constante procura por algo. Será perdão?

Dostoiévski nos apresenta o outro lado do assassino: a mente doentia, conflituosa.
O crime de Raskólhnikov justifica (e afirma), não sua má conduta, mas suas crenças.

Uma leitura densa, complicada e cansativa. 500 páginas de pura solidão, melancolia e, por incrível que pareça, compaixão.