16 de julho de 2010

Eternamente, o Vampiro de Curitiba


"Que fim levou o vampiro louco de Curitiba, esgueirava-se
de mão
no bolso à sombra da meia-noite, não era o velho Jacó assobiando com medo do escuro?" (O Pássaro de Cinco Asas)
Chove em Curitiba. E eu penso comigo mesma, que dia mais Dalton... criei essa expressão para os dias de chuva, dias de neblinas, aquelas noites frias em que a lua está enorme e brilhante. Me parecem noites perfeitas para o Vampiro de Curitiba atacar, as noites de Dalton!
Para quem não sabe, eu explico.
Dalton Trevisan, grande escritor brasileiro e Curitibano, é considerado o Vampiro de Curitiba, porque, além de um livro com esse título, ele vive esse personagem.
Dalton nunca é visto em público, na sua casa, as janelas são fechadas com concreto, raramente dá entrevistas, e quando isso acontece, fala pouco.
Essa personalidade tão distinta, é que faz com que Dalton seja considerado o Vampiro de Curitiba. Segundo ele mesmo, sempre foi "incuravelmente tímido".
Seus textos, tratam da dura vida urbana, uma Curitiba que não passa na televisão, pessoas comuns, situações cotidianas, que não fogem nem um pouco da nossa realidade. Sexo, drogas, assassinatos, violência doméstica, morte.
Quando leio um conto de Dalton, olho para o lado e penso: "pode ser a história desse homem, ou daquela mulher ali na frente".
Dalton consegue, com maestria, retratar uma Curitiba verdadeira, essa que lemos nos jornais, essa que tanto nos dá medo, e tanto nos encanta.
"No Passeio Público eis o viveiro de araras diante do quiosque do fotógrafo, que põe as mãos na cabeça:
-Orra, isso que é o inferno? Um bando de araras bêbadas?
Em casa, ao contar o episódio, o fotógrafo ouve da mulher:
-Pra mim, cara, o bando de araras bêbadas é você." (99 Corruíras Nanicas)
Esse autor, por mais enigmático e incógnito que seja, está sempre presente na vida de Curitiba e na vida de seus leitores. É impossível não gostar, impossível não se identificar com algum de seus personagens.
Dalton é sinônimo de mistério e encantamento.
E sua literatura é literalmente uma mordida de vampiro, porque o efeito, depois de provada uma vez, é eterno.

** O fotógrafo Nego Miranda fez um belo trabalho por aqui, fotografando Curitiba pelos olhos de Dalton. Tirou fotos do vampiro que falam mais do que palavras, captando ao mesmo tempo, a solidão do vampiro e a alma de uma cidade fria. "A eterna solidão do vampiro" é o nome da obra lançada pelo fotógrafo.