17 de abril de 2012


Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.
C.L.

16 de abril de 2012

E tudo vira poesia

E Curitiba, mais uma vez, me surpreende.
Ô terrinha fértil, heim?
Ontem, em mais um passeio pela Feira do Largo da Ordem, encontrei uma figura daquelas que parecem saídas de filmes de sessão da tarde sobre cientistas malucos e geniais: Hélio Leites.
Passei despercebida pela sua barraca, mas me chamou a atenção um "cartaz" bordado, cheio de botões e coisinhas mínimas, dizendo: "Contador de Histórias". Como adoro uma boa história, e a pessoa que se apresentava na barraca era, no mínimo, muito interessante, parei.
Seu nome é Hélio Leites. Não sei sua idade, sua naturalidade e nem nada. Só sei que ele é demais.
Hélio é um artista completo. Com ninharias, coisas mínimas, lixos, ele produz artigos únicos, recheados de histórias. Cada peça é uma poesia. Uma poesia que o artista não exita em declamar e explicar. Dotado de uma inteligência filosófica, poética e sagaz, Hélio materializa os ditos populares, as anedotas, os jargões, a poesia popular, o cordel. Materializa sentimentos, emoções e ações humanas.

Sua arte é a do encontro. Laços, união, pontes entre as pessoas.
Em conversa, Hélio falou sobre uma das suas obras, feita com palito de picolé. Segundo ele, muita gente pisa num palito de picolé. Ele, porém, transforma um palito em arte e vende por R$ 6,00. Com esses R$ 6,00, compra pão, enquanto alguém está pisando no alimento, sem perceber.

Hélio transforma coisas inúteis em algo mais inútil ainda: arte! Porque (e sempre caímos em Leminski) a arte, assim como a poesia, é um inutensílio.

E - acredite se quiser - conheceu Leminski. O poeta escreveu o texto "O significador de insignificâncias" dedicado ao Hélio. E, nessa altura da conversa, tive vontade de passar o restante do dia ouvindo e observando o artista.

Para conhecer mais sobre o Hélio, vá até a Feira do Largo da Ordem e procure pela criatura mais encantadora e interessante: um cabeludo, falador, cientista, poeta e colorido, que estará esperando, com certeza, para contar algumas histórias.

Recentemente, Hélio lançou um livro sobre sua arte: Mínimos. (2º link)

Veja também:


13 de abril de 2012

Literatura? A minha com libido, por favor - Sérgio Rodrigues

 

Bem, vocês que são jovens corajosos, abram o ‘Grande sertão’ e leiam as 565 páginas. Isso para mim é um ato de coragem, ler ‘O jogo da amarelinha’, do Cortázar. Leia ‘Guerra e paz’. É um ato de coragem, transgressor, vai fazer bem para a sua vida, para a sua alma, para as conversas com a namorada. É um assunto e tanto. Já pensou, ‘Guerra e paz’? Três anos de conversa. Poucos momentos de silêncio e tédio. Chega o tédio, você fala: “tem uma cena no Grande sertão…”. É um casamento, uma vida inteira. Quando ele entra nas veredas mortas… sabe por que veredas mortas? Porque alguma coisa vai acontecer. É um lugar sombrio, obscuro. Conta isso para ela. 

Milton Hatoum, autor de “Dois irmãos” e “Cinzas do Norte”, saiu-se com a excelente tirada acima em seu bate-papo público na série de encontros Um escritor na Biblioteca, organizada pela Biblioteca Pública do Paraná, transcrita e publicada pelo jornal “Cândido”.
Tocou num ponto nevrálgico que as campanhas pró-leitura, em geral chatíssimas, costumam deixar de lado por pudor ou caretice: o fato de que, em sua fase de formação, todo leitor é um aventureiro movido pela libido – nem mais nem menos do que fãs de rock ou surfe, cosplay ou academias de ginástica.
O fato de se dar por meio da ficção literária não torna o processo de construção de uma subjetividade e de uma identidade social menos ligado à sensualidade, ao desejo, à vontade de impressionar e seduzir. O que é de uma obviedade solar, mas frequentemente ignorado pelo antiintelectualismo que domina a sociedade brasileira.
Para formar um bom leitor, bastam dois itens: educação de qualidade – para acabar com o calamitoso analfabetismo funcional que atrofia o país – e uma paixonite adolescente pela Maga ou por Mandrake, ao gosto do freguês. O resto vai no embalo.

http://veja.abril.com.br/blog/todoprosa/