Bem, vocês que são jovens corajosos, abram o ‘Grande sertão’ e leiam as
565 páginas. Isso para mim é um ato de coragem, ler ‘O jogo da
amarelinha’, do Cortázar. Leia ‘Guerra e paz’. É um ato de coragem,
transgressor, vai fazer bem para a sua vida, para a sua alma, para as
conversas com a namorada. É um assunto e tanto. Já pensou, ‘Guerra e
paz’? Três anos de conversa. Poucos momentos de silêncio e tédio. Chega o
tédio, você fala: “tem uma cena no Grande sertão…”. É um casamento, uma
vida inteira. Quando ele entra nas veredas mortas… sabe por que veredas
mortas? Porque alguma coisa vai acontecer. É um lugar sombrio, obscuro.
Conta isso para ela.
Milton Hatoum, autor de “Dois irmãos” e “Cinzas do Norte”, saiu-se
com a excelente tirada acima em seu bate-papo público na série de
encontros Um escritor na Biblioteca, organizada pela Biblioteca Pública do Paraná, transcrita e publicada pelo jornal “Cândido”.
Tocou num ponto nevrálgico que as campanhas pró-leitura, em geral chatíssimas, costumam deixar de lado por pudor ou caretice: o fato de que, em sua fase de formação, todo leitor é um aventureiro movido pela libido – nem mais nem menos do que fãs de rock ou surfe, cosplay ou academias de ginástica.
O fato de se dar por meio da ficção literária não torna o processo de construção de uma subjetividade e de uma identidade social menos ligado à sensualidade, ao desejo, à vontade de impressionar e seduzir. O que é de uma obviedade solar, mas frequentemente ignorado pelo antiintelectualismo que domina a sociedade brasileira.
Para formar um bom leitor, bastam dois itens: educação de qualidade – para acabar com o calamitoso analfabetismo funcional que atrofia o país – e uma paixonite adolescente pela Maga ou por Mandrake, ao gosto do freguês. O resto vai no embalo.
http://veja.abril.com.br/blog/todoprosa/
Tocou num ponto nevrálgico que as campanhas pró-leitura, em geral chatíssimas, costumam deixar de lado por pudor ou caretice: o fato de que, em sua fase de formação, todo leitor é um aventureiro movido pela libido – nem mais nem menos do que fãs de rock ou surfe, cosplay ou academias de ginástica.
O fato de se dar por meio da ficção literária não torna o processo de construção de uma subjetividade e de uma identidade social menos ligado à sensualidade, ao desejo, à vontade de impressionar e seduzir. O que é de uma obviedade solar, mas frequentemente ignorado pelo antiintelectualismo que domina a sociedade brasileira.
Para formar um bom leitor, bastam dois itens: educação de qualidade – para acabar com o calamitoso analfabetismo funcional que atrofia o país – e uma paixonite adolescente pela Maga ou por Mandrake, ao gosto do freguês. O resto vai no embalo.
http://veja.abril.com.br/blog/todoprosa/
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