26 de fevereiro de 2012


Paulo Leminski, meu poeta maior, dizia que a poesia é um inutensílio. Faz parte daquelas coisas que não têm um porquê de existir.. existem porque precisamos de coisas inúteis para sobreviver.
Hoje, manhã de domingo, sob um sol escaldante em Curitiba, passeio pela tradicional Feira do Largo da Ordem, onde cultura e artesanato dialogam e apresentam-se ao povo.
Em meio à barracas de bijuterias, chinelos, bolsas, pastéis e livros, me deparo com uma imagem que, por minutos, me fez parar completamente e respirar mais devagar, tentando compreender o que via.
Na minha frente, se apresentando para um público às gargalhadas, um senhor vestido de gala, embora sujo, tocava sua viola verde de plástico, cujas cordas soavam agudas, tristes e melancólicas aos ouvidos.
Imediatamente, me lembrei do que dizia Leminski sobre a poesia.. Esse senhor, tão dedicado e humilde na sua arte, se agarrando à doce ilusão da música que não tocava, me fez entender o quanto precisamos da arte, o tal inutensílio, para seguir em frente, para sobreviver.
Ao me ver ali, completamente tomada pela sua música, ele tocou com mais força, e entoou uma canção a qual eu, ignorante e minúscula diante dele, não compreendi. Olhou fixamente para mim enquanto cantava e tocava, esperando, talvez, que eu colocasse uma moedinha na caixa de sapatos ao seu lado.
Não coloquei. Não tenho nada a oferecer-lhe. Ele, porém, me agraciou e embalou com sua arte, sua linda música. Me cedeu uma parcela de sua tristeza. Me marcou, como se fosse brasa, com aquele olhar repleto de histórias, de um passado desconhecido e um presente insuportável, só possível de viver com a arte.

23 de fevereiro de 2012

Neve e fogo
força e febre
no movimento
o silêncio se bebe
e se embriaga
agora
aqui
no dentro
do outro
estilhaços de
estrelas
pleno de si
esse cio
eterno início
nunca se sacia.
Alice Ruiz, linda.