Livros à caça de novos leitores
Bibliotecas comunitárias fazem obras literárias transitarem por diversas
mãos e cativam usuários. Entre eles, catadores de Curitiba.
Era
apenas uma ferramenta de trabalho até que um dia os livros viraram uma
nova ocupação. Sem querer ganhar dinheiro com isso, Josiane Mayr Bibas,
Maria Luiza Mayr e Ângela Marques Duarte têm um objetivo em comum: tirar
os livros parados nas estantes alheias e fazê-los circular por muitas
mãos. Para isso, elas transformam caixas de frutas e livros usados em
bibliotecas comunitárias, em que qualquer pessoa pode se converter em
leitor.
O projeto Freguesia do Livro começou quando as
apaixonadas por leitura Josiane e Ângela decidiram abandonar os
consultórios de fonoaudiologia para viver outras experiências. “Como
usávamos os livros nas consultas, tínhamos bastante. Resolvemos montar
uma biblioteca comunitária na Vila Zumbi, em Colombo, em fevereiro do
ano passado”, conta Josiane. Para manter esse espaço, as duas passaram a
pedir doações para colegas e amigos. “Vieram muitos livros e resolvemos
montar mais bibliotecas.”
Em março deste ano, a administradora de empresas Maria Luiza se
juntou ao grupo e as três, que também são artesãs, passaram a
personalizar caixas de frutas com a marca do projeto. Dentro são
colocados de 30 a 40 livros que ficam disponíveis em estabelecimentos
comerciais e empresas. “Trabalhamos com o conceito de livro livre para
estimular a leitura. A pessoa encontra [o livro] numa caixa, pega, lê e
leva para outra pessoa ou lugar. Não existe carteirinha e nem data de
devolução”, explica Josiane.
EcoCidadão freguês
Com diversas linhas de atuação, o Freguesia também chega aos
EcoCidadãos, programa da prefeitura de Curitiba que ajuda na organização
de materiais recicláveis coletados na cidade. Hoje são sete barracões
atendidos, mas outros já estão em processo de implantação. “Fazemos um
contato anterior, explicamos a ideia e levamos a caixa. A gente explica
para os catadores como é que funciona e eles acham ótimo”, fala Josiane.
A aproximação dos dois projetos surgiu depois que um casal de
voluntários do Freguesia foi a um dos galpões do programa municipal para
levar publicações que estavam em péssimas condições e não poderiam mais
ser aproveitadas. Naquele dia, uma das catadoras se encantou por um dos
volumes e perguntou se não tinha outro livro da Clarice Lispector.
Pronto, foi a inspiração para o Freguesia construir mais um capítulo em
parceria com a Aliança Empreendedora, entidade responsável pelos
EcoCidadãos.
Um dos entusiastas do projeto é Francisco Joel Teixeira de Almeida,
53 anos, um dos associados na Catamare, EcoCidadão localizado no
Rebouças. “Acho essa ideia maravilhosa, linda. O que a sociedade precisa
fazer pelas pessoas com menos condições financeiras é dar esse outro
alimento, que é a leitura.” Na Catamare, a caixa do Freguesia do Livro
está há pouco mais de um mês, mas já desperta bastante a curiosidade dos
catadores. “Eu acho fantástico eles levarem livros para a gente. Acho
que isso convence as pessoas a lerem mais. Duas colegas já pegaram
livros e levaram embora para ler, fiquei tão feliz com isso”, conta
Almeida.
Iniciativa
Minibiblioteca é morada de grandes autores no Água Verde
Outra iniciativa de leitura tem chamado a atenção em Curitiba. Em um
endereço do bairro Água Verde, foi instalada uma casinha com portas de
vidro e sem trancas. Dentro, uma porção de obras e um recado: “Livros
não devem ficar guardados”. A seguir, estão as orientações para quem
deseja doar um volume ou pegar uma história para ler. Não existem
regras. Qualquer um pode emprestar e devolver um livro quando quiser,
sem pedir para ninguém, fazer carteirinha ou pagar multas por atraso.
A minibiblioteca da Rua Petit Carneiro fica no número 453 e é cuidada
por Aida Teixeira, dona da loja de artigos para saúde onde fica a
casinha. A comerciante conta que a ideia de construir o pequeno acervo
veio na bagagem de sua filha e do genro de uma viagem para a Europa.
“Lá, a prática de deixar livros em lugares públicos é bastante comum.
Para proteger da chuva, as pessoas colocam uma caixinha com os livros
que já leram em árvores ou na frente das casas.”
Com a ajuda de um artesão, a casinha foi construída e decorada por
uma amiga de dona Aida. “Os primeiros livros eram uma parte nossa e
outra parte doada por autores que ficaram sabendo da ideia”, conta a
comerciante. “Quando contei para outra amiga sobre a minibiblioteca, ela
disse que não iria durar uma semana. Esses dias falei para ela que já
funciona há mais de um semestre.” Instalada desde outubro de 2011, a
casinha dos livros é pouco maior do que uma caixa de correspondências e
cabem bem acomodados 50 volumes.
Rotatividade
Aida fala que já passaram pela minibiblioteca grandes clássicos e
autores bastante conhecidos, como Paulo Coelho. “Esses dias deixaram uma
coleção completa do Harry Potter e o interessante é que depois foram
levados embora por pessoas diferentes. Um tempo atrás deixaram uma
porção de Bíblias e todas elas foram pegas também.” Mas o acervo de dona
Aida ainda não consegue atender a todos os públicos. “Precisamos muito
de livros infantojuvenis. As crianças passam, gostam, mas nem sempre tem
algo para eles”, diz.
Para doar é só entrar em contato pelo telefone (41) 3016-1041 ou simplesmente chegar e colocar o livro na minibiblioteca.