10 de julho de 2011

Sem rodapés - Carlos Henrique Schroeder

Como se a vida fosse isso, uma passagem de ônibus sem volta. Uma solidão, não num campo de algodão: num estábulo, onde todos os belos cavalos sorriem, e querem não aquilo que você tem, mas o que almeja.
Um doce beijo, o resfolegar de seu hálito, ou qualquer coisa dentro doida, essas coisas que só gente louca, como você e eu, entende, esse espaço, isso, espaço, entre uma vírgula e outra, entre o texto e o subtexto, entre a boceta e o pau, isso, o espaço, o mundo é feito de espaços, o seu, o meu, nosso, a literatura é feita de espaços. Chega de repetição.
Espaços. Ex-paços.
Um rodapé é um buraco na memória, o gozo antecipado. Um blefe de truco. Não importa, é um rodapé.

Extraído do livro As certezas e as palavras

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