7 de junho de 2011

Necrológio dos desiludidos do amor - DRUMMOND

    Os desiludidos do amor
    estão desfechando tiros no peito.
    Do meu quarto ouço a fuzilaria.
    As amadas torcem-se de gozo.
    Oh quanta matéria para os jornais.

    Desiludidos mas fotografados,
    escreveram cartas explicativas,
    tomaram todas as providências
    para o remorso das amadas.
    Pum pum pum adeus, enjoada.
    Eu vou, tu ficas, mas os veremos
    seja no claro céu ou no turvo inferno.

    Os médicos estão fazendo a autópsia
    dos desiludidos que se mataram.
    Que grandes corações eles possuíam.
    Vísceras imensas, tripas sentimentais
    e um estômago cheio de poesia...

    Agora vamos para o cemitério
    levar os corpos dos desiludidos
    encaixotados completamente
    (paixões de primeira e de segunda classe).

    Os desiludidos seguem iludidos,
    sem coração, sem tripas, sem amor.
    Única fortuna, os seus dentes de ouro
    não servirão de lastro financeiro
    e cobertos de terra perderão o brilho
    enquanto as amadas dançarão um samba
    bravo, violento, sobre a tumba deles.

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