Na última segunda-feira (17) as ruas
de Curitiba foram tomadas por milhares de pessoas em apoio aos manifestos do
Movimento Passe Livre em São Paulo. A cena que presenciei ao me deparar com
todo aquele povo, era linda. Cartazes, bandeiras e um grito preso na garganta
era o que mantinha os manifestantes unidos.
Em meio a toda a discussão que,
inevitavelmente, se formou em torno desses movimentos que se alastraram pelo
Brasil, dois pontos chamaram minha atenção. O primeiro diz respeito ao caráter
indiscutivelmente diferenciado desses novos manifestos. Diferente do que até
então era costumeiro, esses manifestos têm como principal marca a pacificidade.
Em São Paulo, por exemplo, onde tudo começou, desde o primeiro manifesto as
pessoas foram às ruas portando flores, vestindo branco e suplicando PAZ. A
polícia, em contrapartida, por despreparo, recebeu os manifestantes com
inegável truculência. O despreparo policial tem como origem, acredito,
justamente no diferencial desses movimentos, que não têm um centro, um sindicato
ou alguém com que negociar, e sim, milhares de pessoas que, juntas, formam um
único núcleo que pede, exige resposta. A polícia, assim, é impotente diante os
crimes cometidos diariamente por uma população carente, oprimida e cada dia
mais violenta, mas é forte (no sentido literal da palavra) para repreender
arbitrariamente e ditatorialmente àqueles que, em protesto, lutam por dias
melhores.
No meio da multidão, óbvio, pequenos
grupos cometem atrocidades que difamam e mancham o branco das manifestações.
Mas como julgá-los? Como dizer, com todas as letras, que essas pessoas estão
erradas em destruir o patrimônio público, tão privado? A impressão que tenho,
ao tentar responder essas perguntas, é que acabarei me repetindo e entrando num
exercício retórico inválido e pouco eficiente, pois creio ser muito difícil
mudar a mentalidade de um cidadão que, cansado dos pequenos delitos diários que
sofre do governo, queira destruir o que ele mesmo mantém, com o suor do seu
trabalho. Por isso, e espero que isso não comprometa a validade desse texto,
não me aterei aos vandalismos. O fato é que, em meio aos muitos manifestantes
que lutam em paz, existem os que lutam vandalizando. E isso não significa que o
manifesto seja uma baderna.
O segundo, e último ponto (por enquanto),
que me chamou a atenção, foi em relação às demandas dos manifestantes. Li
muitas opiniões de pessoas que julgam necessário um foco, uma demanda mais
clara nos manifestos que se espalharam pelas capitais. Temos uma demanda clara:
a diminuição na tarifa do transporte público! Parece-me mais claro ainda que,
por trás dessa demanda, muitas outras questões estejam implícitas. Afinal de
contas, se a tarifa aumenta, pressupõe-se que a qualidade no transporte também
melhore, assim como aumente a frota de ônibus, os salários dos trabalhadores,
deem-se condições mínimas de trabalho àqueles que ficam em estações tubos e
diminuam-se as goteiras em terminais e tubos (falando exclusivamente de
Curitiba). O problema é que os preços sobem e a qualidade não. Em Curitiba,
alguns dos novos biarticulados exibem um bonitinho telão próximo à porta
1, que exibe notícias e propagandas de empresas curitibanas. Além disso, alguns
terminais já contam com um letreiro informando horários de algumas linhas de
ônibus, o que facilita muito a vida de qualquer passageiro, desde que os
motoristas conseguissem cumprir aqueles horários, ou que os biarticulados mais
antigos não deixassem se funcionar no meio do trajeto. Portanto, sem mais
rodeios, a demanda de diminuição na passagem é clara e não é e nem pode ser
única!
Algumas pessoas me disseram que foi
só mexer no bolso, na “migalhinha” de cada um, que o povo resolveu lutar. Não
vejo por esse lado e acho, na verdade, que é uma visão simplista e acomodada.
Se fosse apenas isso, porque tantas pessoas, em meio à multidão, pedem por
promessas não cumpridas e reivindicam melhorias em outros setores? Na
manifestação vi cartazes referindo-se à tarifa, vi outros reclamando a
corrupção, alguns descendo o sarrafo nas grandes mídias, e outros, ainda,
cobrando ação, grito e luta do povo. E isso não significa, não mesmo, que o
movimento tenha perdido sua demanda principal, tenha desvirtuado seu principal
objetivo. Isso porque o aumento da tarifa é, na verdade, advindo de tantos
outros insultos que corrompem a democracia e ferem nosso patriotismo, pois um
problema, a meu ver, é cíclico e se origina de outros problemas. É muito claro
o que a população exige: voz ativa - além das urnas - nos processos políticos do país e DIGNIDADE. Então, por favor, manifestantes, cobrem, gritem e reclamem
seus direitos! Reclamem suas migalhinhas!
É inevitável, também, a pergunta: no
que isso vai dar? E a resposta também me parece óbvia: não sabemos. O que
importa, acredito, é dar o recado, manter a postura ao ir às ruas e não deixar
o caráter pacífico das manifestações se perder em meio ao despreparo policial e
às opiniões contrárias que tendem a difamar os manifestos. O que estamos
fazendo é muito bonito, válido e necessário! Continuemos, então, nesse processo
democrático em que ir às ruas me parece ser uma forma de (re)descobrir o Brasil
e revelar o brasileiro, tal qual ele é, um povo heroico, livre e politicamente
ativo.
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