8 de agosto de 2013

Aço em flor

CENÁRIO: panos pretos; páginas rasgadas ao chão; garrafas e copos quebrados ao chão; um banco de madeira grande, de três lugares no centro do palco; painel branco atrás do palco com poemas de PL em preto e manchas em vermelho. Ao fundo, melodia da canção "Cheiro de uma flor".
Homem nu, com sandálias franciscanas, sentado no meio do banco. Em seu corpo, palavras escritas em preto e gotas de tinta vermelha, sangue.



os bigodes trêmulos
o bafo de vodka
o olhar de cachorro que caiu da mudança
em abandono
em cólera
em transe
as palavras sussurradas, inaudíveis aos jornalistas burocratas empresários ternos e gravatas batom no colarinho que falavam falavam falavam compondo uma melodia desconexa e sem ritmo que só jornalistas burocratas empresários ternos e gravatas batom no colarinho suportariam
passos lerdos, arrastados
a vida que pulsara naquele corpo, que alimentara sua genialinsanidademental parecia pisoteada pelos passos lerdos, pesados, tamanho 43
rua
curitibanos
asiáticos
cheiros
pastel
perfume
mijo
barulho
motores
martelos
risos



sua cidade, sua alma
apagava-se
diluia-se
a cachaça lhe corroera os ossos, tudo bem!
tirara-lhe esposa e filhos, tudo bem!
sobrevive, diluído, mas sobrevive
a cachaça - essa merda de realidade
essa merda de cidade
essa merda de poesia!
amada seja a poesia!
cadê? diluída em copos e relaxos.
cadê?
amada seja a poesia!
manchas
memórias
lembranças turvas
manchas
amada seja a poesia!
cadê?
flores
poesia
flores
agora aço - pedra - aço
a poesia era sua liberdade! amada seja! cadê?
?
aço no pulso
aço no pulso
pulsação - poesia - pulsaç - poesia - pul - poesia - p - poesia - p - poesia - p - poesia.
a noite, enorme
poesia.
ele dorme.

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