9 de agosto de 2013

Democratizar a democracia

Roberto DaMatta - importante antropólogo brasileiro - entende o futebol como o esporte responsável por ensinar a nós, brasileiros, a democracia. Palavra essa, aliás, que, de tão manjada, já perdeu seu real sentido em meio a significados e contextos diversos, muitas vezes meramente elucidativos. No Brasil, por exemplo, é senso comum entender a democracia como a tomada de decisões pelo povo. Porém, mais senso comum ainda é compreender que a democracia aqui não funciona plenamente.

É claro que não desmontarei a máquina democrática da política brasileira a fim de mostrar-lhe, caro leitor, quais as engrenagens que, vez em quando, emperram. Isso seria subestimar a sua inteligência e poderia despertar o Gigante (se é que me entende). Aliás, já que tocamos no assunto subestimar o povo, me permita lhe informar que o governo, mais uma vez, "tirou uma com a nossa cara", como diriam meus alunos. Refiro-me à caxirola, o instrumento criado por Carlinhos Brown (cujo nome, aliás, me soa muito patriota) que se tornaria símbolo das torcidas da Copa do Mundo 2014 no Brasil (tchitchitchitchi). Percebeu o verbo no pretérito? Pois é. A criação, melhor, a adaptação de Carlinhos Brown foi testada em um jogo entre Bahia e Vitória e, para surpresa de seus entusiastas, foi utilizada como arma de protesto pelos torcedores do time perdedor (tchitchitchitchi), que arremessaram os instrumentos ao campo. Abaixo, portanto, à caxirola.

Um detalhe importante da caxirola é seu preço. Sim, preço. Peço desculpas, leitor, pois não expliquei-lhe antes que, no jogo-teste os instrumentos foram dados aos torcedores, mas a intenção, claro, é que sejam comercializados, custando em torno de 30 reais (tchitchitchitchi). Sabendo disso, é evidente que a adaptação do caxixi para a caxirola não poderia ser mais trágica (tchitchitchitchi)! E a tragédia está não no ocorrido no jogo de estreia do instrumento, mas na forma como foi imposto que esse seria o símbolo de torcidas que, por si só, já simbolizam o futebol que nos faz conhecidos no mundo todo, feito de caras e urros! A democracia da qual fala DaMatta existe, de fato, no futebol. Ela inexiste, porém, nos palácios e senados onde projetos como o da caxirola são aprovados (tchitchitchitchi). Exerçamos, portanto, a nossa democracia! E que os campos de futebol, as calçadas do Senado, as praças e as avenidas se cubram de caxirolas, cartazes e pessoas na luta pela utópica democracia.

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